quinta-feira, 18 de março de 2010

VYGOTSKY

Lev Vygotsky
O bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) é chamado por muitos de "o Mozart da psicologia". Vygotsky (pode-se escrever também "Vigotski", pois originalmente seu nome é grafado em outro sistema alfabético) é o grande fundador da escola soviética de psicologia, principal corrente que, hoje, dá origem ao socioconstrutivismo.
Em sua curta vida Vygotsky foi autor de uma obra muito importante. Seus primeiros estudos foram voltados para a psicologia da arte. Extremamente culto, tinha entre seus amigos o grande cineasta Serghei Eisenstein, admirador de seu trabalho.
O contexto em que viveu Vygotsky ajuda a explicar o rumo que seu trabalho iria tomar. Suas idéias foram desenvolvidas na União Soviética saída da Revolução Comunista de 1917 e refletem o desejo de reescrever a psicologia, com base no materialismo marxista, e construir uma teoria da educação adequada ao mundo novo que emergia dos escombros da revolução. O projeto ambicioso e a constante ameaça da morte (a tuberculose se manifestou desde os 19 anos de idade e foi responsável por seu fim prematuro) deram ao seu trabalho, abrangente e profundo, um caráter de urgência.
Para Vygotsky, o que nos torna humanos é a capacidade de utilizar instrumentos simbólicos para complementar nossa atividade, que tem bases biológicas. Em um pequeno artigo sobre o jogo infantil, diz que as formas tipicamente humanas de pensar surgem, por exemplo, quando uma criança pega um cabo de vassoura e o transforma em um cavalo, ou em um fuzil, ou em uma árvore... Os chimpanzés, por mais inteligentes que sejam, podem no máximo utilizar o cabo de vassoura para derrubar bananas, por exemplo, e jamais para criar uma situação imaginária. O que nos torna humanos, segundo Vygotsky, é nossa capacidade de imaginar...
A linguagem é uma espécie de "cabo de vassoura" muito especial, capaz de transformar decisivamente os rumos de nossa atividade. Quando aprendemos a linguagem específica de nosso meio sociocultural, transformamos radicalmente os rumos de nosso próprio desenvolvimento. Assim, podemos ver como a visão de Vygotsky dá importância à dimensão social, interpessoal, na construção do sujeito psicológico.
Grande parte de sua obra está sendo divulgada somente agora, até mesmo na União Soviética (suas idéias entraram no grande expurgo promovido por Stalin e sobreviveram somente graças à devoção de um grupo de discípulos), e sua teoria sociocultural do desenvolvimento deve ser cada vez mais pesquisada ao entrarmos no século XXI.
Na área educacional, a influência de Vygotsky também vem crescendo cada vez mais e dando origem a experiências das mais diversas. Não existe um método Vygotsky. Como Piaget, o psicólogo bielo-russo é mais uma fonte de inspiração do que um guia para os pedagogos.
Zona Proximal de Desenvolvimento
De todos os conceitos desenvolvidos pelo grande psicólogo Vygotsky, o da zona proximal de desenvolvimento (ZPD) é o que mais influência tem exercido sobre a pesquisa e a prática educacional. Ele tenta explicar, entre outros fenômenos, a aprendizagem de conceitos científicos, como aqueles que as escolas se propõem a ensinar.
Por trás desse nome complicado, há uma idéia extremamente simples: o que a criança faz hoje em conjunto com outros poderá fazer sozinha amanhã.
É claro que não é possível levar a criança a fazer qualquer tipo de coisa. Por exemplo, não se pode ensinar álgebra para um aluno que nem conhece as quatro operações. Mas é possível, dentro de certos limites, apresentar desafios e informações cuja utilidade ele possa começar a perceber. Esse limite entre o que o sujeito não pode fazer sozinho e as instruções que ele é incapaz de compreender é o que define a zona proximal de desenvolvimento para a aprendizagem de um determinado campo de conhecimentos.
Um bom exemplo de atuação na ZPD é uma mãe ensinando um filho a falar. Ela sempre reage às tentativas da criança, incentivando, corrigindo, fazendo novas perguntas e exigências, em função de sua percepção do que a criança pode ou não fazer. A criança evolui porque sempre está recebendo novas informações e desafios, que exigem que ela vá um pouco além do que já sabe. Aos poucos, o que acontecia na ZPD passa a ser feito pela criança sozinha, e a mãe pode elevar novamente o nível de seus desafios e exigências.
Para a pedagogia, o conceito de ZPD tem várias implicações. Na avaliação, por exemplo, que normalmente é centrada no que cada aluno pode fazer sozinho. Para Vygotsky, isso é um erro. O que deve ser avaliado é a capacidade que o aluno tem de fazer coisas colaborando com os outros e até recebendo informações e instruções.
A ZPD oferece também novas perspectivas para a área da "construção da autonomia". Para Vygotsky, só uma criança que foi "bem regulada" pelos outros poderá um dia assumir o papel de reguladora (passando a dar a si mesma orientações que encontram sua origem nas ordens que recebeu dos outros - uma idéia que tem o seu parentesco com o conceito de superego, de Freud). A conseqüência pedagógica é clara: para construir autonomia, não basta dar liberdade às crianças. É preciso pensar em formas de levá-las também a controlar a própria atividade.
Existe ainda outra conseqüência de se levar em conta o conceito de ZPD. Em vez de esperar que a criança esteja "pronta" para aprender, o processo de ensino deve se antecipar às aprendizagens e tentar criar novas possibilidades de desenvolvimento. Começamos a aprender qualquer conceito apenas no momento em que o vemos pela primeira vez, pois somente a partir desse momento seu significado poderá começar a transformar nosso pensamento.
Para Vygotsky, as escolas pecam ora porque propõem atividades fora dos limites da ZPD (conceitos e exigências abstratos demais), ora porque não levam em conta sua existência (como no caso do ensino baseado apenas em materiais concretos e na espera de que a criança esteja "pronta" para aprender conteúdos mais sofisticados).
As idéias de Vygotsky e conceitos como o da ZPD inspiram - e devem continuar inspirando pelo século XXI afora - diferentes tentativas de renovação dos métodos educacionais, que vão desde a busca de contextos ricos para as descobertas das crianças (aqui há uma semelhança com as idéias da Escola Nova) até a análise de como a comunicação dos tutores pode influenciar os processos de aprendizagem dos alunos.
Disponível: HTTP://www.educacional.com.br/glossariopedagogico.

Enviado Por: LEANDRO SANTOS DE JESUS

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