quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PSICOGENESE DA LÍNGUA ESCRITA





EMÍLIA FERRERO

Psicolinguista Argentina radicada no México

Teoria da Psicolinguística da língua escrita – estudou o desenvolvimento da alfabetização em crianças de diferentes setores sociais;

Foi um marco, mostra que as crianças não chegam às escolas vazias;

Define a compreensão do desenvolvimento das idéias das crianças sobre o processo de escrita como um processo evolutivo;

De acordo com a teoria da psicogênese da escrita, toda escrita passa por quatro fases:

1º pré-silábica – não consegue relacionar as letras com os sons da linguagem escrita;

2º silábica – interpreta a letra à sua maneira atribuindo valor de sílaba (valor sonoro) a cada letra;

3º silábico-alfabético – mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas;

4º alfabético – domina, enfim, o valor das letras e sílabas;

A proposta é que os professores, sem qualquer prova inicial de avaliação, criem espaço para que as crianças possam produzir e mostrar o que compreendeu sobre a escrita;

Analisar que representação sobre a escrita o estudante tem para que o professor possa agir;

Constatou modo de representação estáveis, organizados cognitivamente e que se sucede em certa ordem, precedendo a representação alfabética de linguagem, estruturando dessa forma a psicogênese da linguagem escrita.

LETRAMENTO

“O conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais e necessário para uma participação ativa e competente na cultura escrita.” (SOARES, 2004)

Na sociedade atual é necessário que as pessoas sejam Alfabetizadas e Letradas.

“Uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada: saber ler e escrever, mas não cultiva nem exerce práticas de leitura e de escrita, não lê livros, jornais, revistas, ou não é capaz de interpretar um texto lido; tem dificuldade para escrever uma carta, até um telegrama – é alfabetizado, mas não letrado”. Magda Soares, 1999.

O que é letramento?

Aprender a ler e escrever, isto é, tornar-se alfabetizado significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita (ler); não basta, porém, adquirir essa tecnologia, é preciso apropriar-se da escrita, isto é, fazer uso das praticas sociais de leitura e escrita, articulando-as ou dissociando-as das práticas de interação oral, conforma as situações.

Em outras palavras: não basta a alfabetização, é preciso atingir o letramento, que pode ser assim definido:

Letramento é o estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, MAS exerce as práticas sociais de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que vive, conjugando-as com as práticas sociais de interação oral (SOARES, 1998).

O conceito de letramento pressupõe a concepção de língua como discurso.

“Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever, mas usa a escrita:

- pede a alguém que escreva para ele, dita uma carta, põe exemplo (interessante que, quando dita, usa as convenções e estrutura lingüística próprias da língua escrita, evidenciando que conhece as peculiaridades da linguagem escrita)

- não sabe escrever, mas conhece as funções da escrita, usa-as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que funciona como uma máquina de escrever...);

- pede a alguém que leia para ele a carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a indicação do roteiro de um ônibus;

- não sabe ler, mas conhece as funções da escrita, e usa-a, lançando mão do alfabetizado.

È analfabeto, mas é de certa forma, letrado, ou tem certo nível de letramento.

PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

NÍVEIS OU HIPÓTESES DO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA ESCRITA

1. Hipótese pré-silábica

§ Há a intenção de escrever;

§ Os rabiscos evoluem, começam a criar sinais gráficos imitativos de letras convencionais;

§ Adquire um certo repertório de letras. Repete as letras do seu nome para escrever qualquer palavra;

§ Distingue desenho de escrita;

§ A escrita não tem correspondência letra/som;

§ Os nomes de pessoas ou objetos têm relação com o seu tamanho. Ex: formiguinha (poucas letras), boi (muitas letras);

§ A leitura é global. As crianças deslizam o dedo por toda a extensão da palavra ou frase escrita;

§ Por meio de informações externas (mídia, rótulos, TV, cartazes, escrita de adulto) e da escola, ela faz associações e começa a utilizar estes símbolos em sua escrita;

§ Identifica a letra inicial das palavras, depois a final e só depois as intermediárias;

§ Há a hipótese quantitativa: para escrever é preciso de um número mínimo de letras – 3 (três) para que seja legível – e os caracteres devem ser variados.

2. Hipótese silábica

§ A criança tenta dar um valor sonoro a cada letra que compõe a escrita. Cada letra vale por uma sílaba. Nas frases cada letra representa uma palavra;

§ Pela primeira vez a criança trabalha com a hipótese de que a escrita representa parte sonora da fala. Às vezes utiliza vogal, às vezes utiliza consoante ou combina as duas;

§ Presta atenção e observa aquilo que está escrevendo;

§ Os eixos quantitativo e qualitativo desaparecem momentaneamente. Vemos, então, caracteres iguais se repetindo: VACA = AA SAPO = AO

§ Os conflitos entre uma hipótese e outra provocam mudanças que aproximam a escrita da criança ao sistema convencional.

3. Hipótese silábico-alfabético:

§ A criança perde a confiança na hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vai além da sílaba;

§ Passa por um período de transição, começando a abandonar os esquemas anteriores, iniciando a criação de novos esquemas;

§ A criança trabalha com duas hipóteses simultaneamente: a sílaba e o alfabeto. É comum dizer que a criança está “comendo letras”, mas, na verdade, ela está acrescentando para ajustar a sua escrita;

§ A criança abandona esta hipótese quando percebe que:

- Não consegue ler sua escrita (esquece, não decodifica);

- Outros não conseguem ler sua escrita (impacto para ela).

4. Hipótese Alfabética:

§ A criança descobre que a sílaba pode ser analisada em elementos menores:

§ Realiza a análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever;

§ Enfrentará problemas ortográficos, pois a identidade dos sons não garante a identidade das letras;

§ As falhas na ortografia, apresentadas pela criança em suas primeiras produções, não são “erros”, mas uma prova de que sua escrita é resultado de explorações e não mera cópia.

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