quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PRODUÇÃO ESCRITA: UM PARADIGMA DO LETRAMENTO NO ENSINO


1. INTRODUÇÃO
Pretende-se com este artigo dar ao proflssional da Língua Portuguesa um suporte teórico quanto à prática textual e suas implicações com o letramento. Palavra cunhada há pouco mais de duas décadas para referir-se à intenção do leitor e leitura — texto, sugerindó uma perspectiva nova nos rumos da alfabetização. Entendendo este como processo de decodificação dos signos gráficos. Nos dizeres de Soares (2006:1 8)

“[...] Letramento, é pois, o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de ter-se apropri do da escrita [...]”

Corroborando com esta mesma proposição, Freire (1982:9) pressupõe que:

“[...j a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a leitura posterior desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquela. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto [...]“.

A escolha desta temática vislumbra dois hemisférios. O primeiro é o de conjectura, levando em consideração que esta é uma abordagem de muita relevância para a inserção ou amplificação do individuo nas práticas sociais; o segundo diz respeito ao aprofúndamento particular da teoria, visando à apropriação deste saber para posterior especialização não só no âmbito acadêmico como também profissional.


Os questionamentos que se levanta diante de uma constatação sobre a baixa desenvoltura do estudante de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II no tocante à produção escrita: Quais são seus reais motivos? Como resolvê-los?

Percebe-se que as razões que levam um estudante à não lograr êxito em sua produção escrita são várias, mas destacaremos apenas a falta da leitura como fator decisivo no surgimento desta mazela social. A ênfase da educação brasileira está na alfabetização, o que faz do estudante apenas um decodificador de símbolos gráficos, impedindo-o de ir às entrelinhas do texto para fazer uma leitura profunda na tentativa de interpretá-lo.

Sabe-se que a leitura é um instrumento imprescindível na construção do saber, não somente para construção de um texto, mas, também, para construção do indivíduo, para a promoção de sua cosmovisão pan que saiba equilibrar os saberes populares e acadêmicos.

A constatação supracitada favorece a construção da mediocridade não somente na vida escolar, mas que afeta todas as demais áreas da vida desse individuo, que em decorrência desta pobreza de não ser ‘letrado’, impingir-se-lhe-á, segundo Freire (1982) um encargo de sofrer por falta de senso crítico, impedido-o de ver o mundo com mais profundidade e de viver sua cidadania de forma plena, a desumanização do ser humano. Certamente é na máxima de Descarte que se baseia o ideário freireano: ‘Cogito, ergo sum ‘(penso, logo existo).

Nestes termos partindo-se do pressuposto de que estudante não conseguirá, ao término desta etapa escolar, expor suas idéias através da fala e/ou da escrita.

Acredita-se que o individuo que escreve com desenvoltura, expondo suas idéias com coerência e unidade textual, terá percorrido outros saberes anteriores a este, tais como aquisição de um espírito crítico, competências para filtrar e equilibrar o cientifico e o popular; e, por fim, o saber que o faz entender aquilo que se lê.

Apresentar-se-á a existência de um caminho possível e viável. Trata-se do percurso da reinvenção do professor enquanto agente facilitador de saberes no tocante à reformulação de seus mecanismos didáticos, que não terá significado algum se não palmilharem pelo caminho do prático, do criativo e da construção mútua da cognição; nesta perspectiva será abordada pela vertente do Letramento enquanto instrumento imprescindível para produção de um texto, criando no estudante o fascínio pelo mundo da leitura com vistas à produção de uma cosmovisão.

Nota-se que há uma crise de plausibilidade no sistema educacional brasileiro, nisto, há uma crescente produção de indivíduos aliàbetizados apenas. É nesse contexto que este trabalho pretende ser relevante — estabelecer pontes entre o aluno de ensino de base e o Letramento propiciado por uma visão que associa o saber ao cotidiano do indivíduo.

Por isso faz-se necessário disfinguir os termos de alfabetização e letramento com segue-se:

2. ALFABETIZAÇÃO

Lingüisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e decodificar o código alfabético. Dizendo de forma mais clara: alfabetização é a apropriação do código escrito, pois para aprender a ler e escrever o aluno precisa relacionar sons com letras, para codificar ou para decodificar, essa é a especificidade da alfabetização. Concretamente, na sala de aula, alfabetizar significa que o agente veiculador do conhecimento, didaticamente, ensinar o aluno a ler e escrever se apropriando das competencias da compreensão dos sinais.

Ninguem aprende a ler e escrever se aprender relações entre fonemas e grafemas, para codificar e decodificar. Envolve, também, aprender a segurar num lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para direita; enfim envolve uma série de aspéctos técnicos […] Isso é a parte específica do processo de aprender a ler e a escrever.(S0ARES, 2003,p.15 e 17).

3. LETRAMENTO

Letramento ou cultura letrada, conforme conceituamos no inicio, ratifi-camos pelo olhar de Soares como sendo a condição de quem não apenas sabe ler e esprever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam escrita (SOARES, 1998, p.47). Alfabetizar, na perspectiva do letramento, ou alfabetizar-letrando é instrumen-talizar os alunos com o código alfàbético para que estejam aptos ao seu uso. Ensinar o código escrito na cultura centra no letramento significa alfabetizar no “lugar certo”, ou seja, através dos práticas sociais, culturais, de leitura, oralidade e escrita.

Segundo Soares, o que mais propriamente se denomina letramento é a imersão do indivíduo na cultura escrita, participação em experiencias variadas com a leitura e a escrita, ponhecimento e interação com diferentes tipos de gêneros de material escrito (SOARES, 2003, p.l3). Para Leda Verdiani Tfouni, enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupos de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade (TFOUNI, 2004, p. 20). Outros autores, como Emília Ferreira, por exemplo, não usa os dois termos. Para ela, os conceitos de alfabetização e letramento significam a mesma coisa, ou seja, um conceito está inserido no outro.

No entanto, é importante explicitar a indissociabilidade dos dois proce-ssos: alfabetizar, com base no letramento, respeitando a especificidade do ensino e aprendizagem da língua escrita sem dissociá-la do processo de letramento e a espe-cificidade do ensino e aprendizagem do letramento sem dissociá-lo da alfabetização.

O processo de letramento ou cultura letrada não acontece de modo espontâneo, exige mediação çla professora e/ou da família proporcionqno aos alunos, de forma constante e significativa, a interação com as práticas sociais de leitura e escrita, isto é, com a cultura escrita em especial a literatura Infantil.

Enfim, o aluno aprende a ler lendo, a escrever escrevendo num ambiente alfabetizador “vivo” que permita ler o mundo com sentido, função, sentimento, criação, tendo uma professora que ensina de verdade, compreende a indisso-ciabilidade e a especificidade da alfabetização e do letramento e conduz o processo com atividades didáticas que promovem dc fato a aprendizagem.

Uma vez identificadas as partes, faz-se necessário relacioná-las à produção escrita no Ensino Fundamental.

4. PRODUÇÃO ESCRITA E LETRAMENTO

Pelo exposto, é perceptível que o alunado do Ensino Fundamental II é alfbetizado, entretanto, não tem o domínio adequado da escrita justamente pela carência da prática da leitura, cuja finalidade é absorver o mundo ou ressignificá-lo, dando-lhe participação ativa nas práticas sociais, O letramento favorece o estudante no sentido de mergulhar nas entranhas do texto e assim fazer relações entre o texto lido e o mundo presente.

Pouco se sabe no domínio da escrita nos limites ginasiais, porque pouco se sabe exercício efetivo de leitura. Por isso, percebe-se que o alunado sofre por falta de idéias pela simples constatação de que ele não adquiriu um nível de leitura que lhe permita tal desenvoltura no processo de pensar e transmitir suas idéias no papel, na escrita propriamente dita. A capacidade de articular as palavras sob forma de expressar suas reflexões de forma coesa e coerente é instrumentalizada pela capacidade de leitura não meramente decodificada de signos, mas provida do sen-tido de associação à realidade contextual.

CONCLUSÃO

Portanto, é importante entender que letramento e escrita são fenômenos indissociáveis e que acontecem concomitantemente, e mais, que o labor da docência criativa deve ser o de criar condições reais de leitura e escrita e uma política de estímulo, com vistas à inclusão nas práticas que favoreçam a apropriação do letramento sob a justificativa de que ele favorecerá o individuo no sentido elevar seu nível de consciência crítica frente ao mundo em que vive, dando-lhe possibilidade de participação na vida política, atributo inerente a todo cidadão livre; e no bom desempenho na produção escrita, usufrindo com segurança dos gêneros textuais, dando-lhe inserção nas práticas sociais simples e complexas das esferas em que freqüenta.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Mariluce de Souza; Rameh, Letícia. Aprimorando com Paulo Freire em alfabetização e letramento. Coleção Paulo Rosa, vol. VI. Recife : Ed. Bagaço, 2006.

FREIRE, Paulo (1921-1997). Conscientização: Teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. V cd. São Paulo : Ed. Centauro, 2006.

______________- A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. (Coleção Polemicas do Nosso Tempo, Vol. IV) 2V cd. São Paulo : Autores Asso-ciados : Ed. Cortez, 1989.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2’ ed, 11ª reimp. — Belo Horizonte : Autêntica, 2006.

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