sexta-feira, 13 de maio de 2011

SENSO COMUM E CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O SENSO COMUM

O senso comum, no sentido habitual desta expressão, é uma faculdade do espírito, um instrumento judicatório[1]; é, objectivamente, um conjunto de opiniões recebidas, uma maneira comum de sentir e agir e não implica qualquer ideia de juízo teórico.
É um conjunto de ideias, costumes e maneiras de pensar que o homem tem na sua vida prática e diária. É constante, comum, universal.
É a Razão no seu estado bruto, sem ciência nem filosofia. É a Razão mais simples, sem desenvolvimento ou aperfeiçoamento.
Pertence ao primeiro nível do conhecimento: o conhecimento empírico.

Há três níveis de conhecimento:

Ø  Conhecimento empírico
Ø  Conhecimento científico
Ø  Conhecimento filosófico

CONHECIMENTO EMPÍRICO


É o conhecimento que considera a experiência sensorial como a única fonte do saber. Nega o papel activo e relativamente independente do pensamento. É uma totalidade de saber não unificado. É um entrave epistemológico.
  
Características do conhecimento empírico:

Conhecimento vulgar ligado à experiência

Experiência
Pessoal (dia a dia) dos outros (usos, costumes, crenças, provérbios populares, etc)
Conhecimento sincrético(confuso, desordenado, baralhado)
Saber sincrético: saber que se refere aos mais diferentes aspectos da vida e do real, mas sem qualquer ordenação ou sistematização.
Conhecimento geral
Ø  Comum à generalidade das pessoas
Ø  Não é especializado
Ø  É superficial (o que aparenta ser)
Ø  Refere-se a noções gerais e não a conhecimentos seguros.
É dominado por um ponto de vista subjectivo
Ø  Experiência pessoal
Ø  Motivações próprias
Conhecimento
Ø  Eficácia em tarefas imediatas


SERÁ QUE O SABER EMPÍRICO É IMPORTANTE PARA A CIÊNCIA?
1ª TESE:
Segundo esta tese , tem de se passar pela observação  da natureza antes de se chegar ao conhecimento científico.
Ex:
                                    De:                                          Chega-se a :
§  Alquimia                      ®        Química
§  Ervas medicinais       ®         Farmacologia
§  Astrologia                   ®         Astronomia
                                                            Etc.
2ª TESE:
Gaston Bachelard diz que não há passagem  do conhecimento empírico para o conhecimento científico.

NOTA:   A OPINIÃO É UM OBSTÁCULO EPISTEMOLÓGICO
Ø  A opinião é um conhecimento subjectivo, não fidedigno. A Ciência opõe-se à opinião porque esta não pensa, nunca tem razão; a opinião traduz necessidades em conhecimentos. Ela designa os objectos pela sua utilidade mas não os conhece. É necessário destruir a opinião para se chegar ao conhecimento, ao saber. É o primeiro obstáculo a ultrapassar.

Obs.: O espírito científico impede-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos ou não sabemos formular claramente.
Conclusão: Para se produzir um saber positivo, é necessário negar um pseudo-saber anterior.

CONHECIMENTO EMPÍRICO
ß
Opinião
ß
...para que serve...



CONHECIMENTO CIENTÍFICO
ß
certeza, saber positivo e objectivo
ß
...o que é ...


CONHECIMENTO CIENTÍFICO


É um conhecimento da natureza, mas já interpretado pelo cientista; construído, reproduzido no laboratório.
É um conhecimento racional.
A ciência é um conhecimento objectivo que estabelece entre os fenómenos relações universais e necessárias, autorizando a previsão de resultados que somos capazes de isolar pela observação da causa ou de dominar experimentalmente.
A ciência estuda os fenómenos (factos definidos e classificados pelo homem de ciência).
A linguagem da ciência é matemática embora nem todo o real seja susceptível de ser medido; quanto mais complexa é a realidade, menos matematizável se apresenta.
Embora a quantificação dos fenómenos seja o ideal atingir pela ciência, há limites de quantificação. Ex: emoções, reacções instintivas, etc, não podem ser quantificáveis.

O que é a ciência?
A ciência é uma classificação, uma forma de aproximar fatos que as aparências separam embora estes estejam ligados por qualquer parentesco natural e escondido.
A ciência é um sistema de relações . É nas relações que a objetividade deve ser procurada e nunca nos seres isolados uns dos outros.
É um conhecimento objetivo que estabelece entre os fenómenos relações universais e necessárias Þ (é assim e não pode ser de outra maneira), autorizando a previsão de resultados que somos capazes de dominar experimentalmente ou de isolar pela observação da causa.
Nota: Não há objetividade num facto, pois nenhum é igual ao outro. Só há objetividade na relação entre os factos.
Quanto às características do conhecimento científico (objetividade, positividade, operatividade, racionalidade, revisibilidade, autonomia) falaremos disso em tempo oportuno. Apenas e sobre este último ponto (autonomia) apontaremos alguns pormenores de interesse imediato.

ASSIM: 
A ciência é autónoma em relação à fé e à filosofia.
CIÊNCIA                                                              RELIGIÃO
- Domínio natural                                 Þ     Domínio sobrenatural
- Experimentação, raciocínio             Þ    
- Fatos positivos                                  Þ     Verdades reveladas
CIÊNCIA                                                         FILOSOFIA
- Domínio próprio e bem definido     Þ      Reflete sobre a ciência; critica princípios e
                                                                             métodos científicos.

A CONSTRUÇÃO DO FACTO CIENTÍFICO

A ciência, plenamente positiva, vive de fatos. Os factos não são dados, mas construídos pelo espírito do cientista.

OBSERVAÇÃO IMEDIATA DA NATUREZA
“fato bruto”
“fato percepcionado”
Ex: A falha da árvore cai, rodopiando.

RECONSTRUÇÃO DA NATUREZA
“fato científico”
“fato construído”
Ex: Os graves caem na vertical.
 OBS:
O cientista simplifica, purifica, interpreta e escolhe, porque dispõe duma teoria científica e instruções técnicas.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO


A filosofia é mais que um saber; é uma atitude: a atitude filosófica.

Dentro da filosofia (algumas rubricas):
1) Filosofar espontâneo e sistemático

O homem e o mundo
2) Atitude filosófica
Atitude interrogativa
Busca de soluções
Atitude crítica
Necessidade comum a todo o homem
Uma sageza
3) Algumas concepções de filosofia
Fil. Como totalidade do saber
Fil. Como metafísica
Fil. Como síntese das ciências
Perspectivas actuais da Filosofia

A Filosofia distingue-se das ciências:
Ø  Pela profundidade da sua investigação, isto é, explica a realidade das coisas pelas causas últimas e não imediatas.
Ø  Pela sua crítica e reflexão, isto é, critica os princípios das ciências depois de reflectir sobre a investigação científica.
Ø  Pelo seu grau de generalidade e de síntese, isto é, abrange toda  a realidade e procura dar unidade total ao conhecimento.
Ø  Pela sua humanidade e valorização, isto é,



[1] Judicatório: (adj.) relativo a julgamento; próprio para julgar.


BIBLIOGRAFIA
  1. ALVES, RUBEM. Filosofia da Ciência - Introdução ao jogo e suas regras. Editora Brasiliense. 1981. São Paulo
  2. CHAUÍ, MARILENA. Convite á Filosofia. Editora Ática. 1994. São Paulo
  3. LUCKESI, CIPRIANO CARLOS e PASSOS, ELIZETE SILVA. Introdução à Filosofia - aprendendo a pensar. Cortez Editora. 2ª Edição. 1996. São Paulo
  4. FOUREZ, GÉRARD. A construção das ciências - introdução à filosofia e à Ética das Ciências. Editora Unesp. 1995. São Paulo
  5. SÁTIRO, ANGÉLICA e WUENSCH, ANA MIRIAM. Pensando melhor – Iniciação ao filosofar. Editora Saraiva. 1997. São Paulo

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